MALASSEZIOSE



 Malassézia é um gênero de fungos leveduriformes, que são componentes da microbiota normal da pele de humanos e animais.

Atualmente, são reconhecidas aproximadamente 14 espécies de malassézia, cada uma delas com hospedeiros específicos; porém, na pele de cães e gatos, somente um pequeno grupo tem sido isolado.

A Malassezia pachydermatis é a espécie mais importante em cães, podendo gerar infecções generalizadas caracterizadas principalmente por lignificação, prurido, eritema e, em casos crônicos, hiperpigmentação. Nos gatos, as infecções generalizadas são raras, mas não inexistentes.

Na prática, os quadros de malasseziose podem ser divididos em duas categorias: lesões agudas e crônicas.

Nos quadros agudos da malasseziose, na maior parte das vezes, são observados principalmente prurido, eritema e odor. As lesões geralmente surgem nas regiões interdigitais, perianal e ventral, bem como nas dobras da face.

Eritema e alopecia - Fase aguda da malasseziose


Nos quadros crônicos de malasseziose, podem ser observados todos os sinais clínicos agudos com o agravante de lesões muito mais extensas, apresentando-se intensamente lignificadas e hiperpigmentadas. O aspecto clínico pode inclusive lembrar a pele de um elefante, o que talvez tenha motivado a nomina Malassezia pachydermatis. O odor e o excesso de untuosidade são características marcantes, observadas em qualquer estágio da doença.

Em alguns casos, a malasseziose pode estar restrita à região abdominal ventral e à face anterior dos membros, o que leva alguns autores a também chamá-la de doença da linha d'água, pois seu aspecto se assemelha ao de um cão que tenha entrado na água e molhado a porção inferior do corpo.

Fase crônica da malasseziose - linha d'água

Fase crônica da malasseziose - lesão predominante na região ventral


Os quadros de malasseziose podem envolver não somente a pele, mas também o conduto auditivo, já que o microrganismo também é um habitante da microbiota da orelha, encontrado no cerúmen mesmo em condições normais em maior quantidade do que na pele.

Os quadros de otite externa por malassézia são comuns e se caracterizam, principalmente, por excesso de cerúmen, eczema, prurido e, nos casos mais graves, estenose do conduto auditivo.

Otite externa crônica - hiperplasia de conduto e eritema


A malassézia é um importante alérgeno para cães, com reconhecido risco para o agravamento da dermatite atópica nesses animais.

Cães com hipersensibilidade a malassézia apresentam inflamação e prurido mesmo na presença de pequeno número de microrganismos, o que sugere que a doença é sempre agravada nessa situação.

A malasseziose é sempre uma doença secundária.

Durante a investigação de um quadro de malasseziose, os esforços devem ser voltados para descobrir a doença de base. As situações mais comuns são:


  • Seborreia - o excesso de untuosidade facilita a multiplicação do microrganismo
  • Alergias - os animais alérgicos possuem uma barreira cutânea malformada e predisposta a excesso de untuosidade; além disso, animais com hipersensibilidade a malassézia tem piora dos sintomas mesmo na presença de pequenas quantidades da levedura
  • Endocrinopatias - principalmente o hipotireoidismo faz com que alguns animais apresentem desqueratinizações, o que favorece o desenvolvimento da malasseziose
O diagnóstico da malasseziose é simples e baseia-se principalmente na observação dos sinais clínicos, somados à comprovação citológica da presença de leveduras.

O método de eleição para detecção da malassézia é a citologia.

Para a aplicação da citologia no diagnóstico de malasseziose, muitas técnicas de coleta podem ser empregadas. A escolha da técnica está diretamente relacionada à localização das lesões.

Na pele do corpo, o imprint é uma técnica bastante sensível, que consiste em utilizar a própria lâmina de vidro para pressionar a pele do animal. Nas áreas de dobras cutâneas, como o interdígito, ou em qualquer área em que não seja possível empregar a lâmina de vidro, pode ser friccionado um swab, que, em seguida, é rolado sobre a lâmina de vidro. Seja qual for a técnica de coleta, o material obtido é então corado, e os corantes rotineiros do tipo Romanowsky são os mais empregados. A lâmina deve ser observada ao microscópio sob objetiva de imersão(aumento de 1.000 vezes).

Malassezia pachydermatis - tingida de cor escura


No passado, a quantidade máxima de leveduras por campo, que caracterizaria um  quadro de malasseziose, foi muito questionada. Entretanto, hoje se considera tal informação irrelevante, pois, se houver sinais clínicos sugestivos da doença, mesmo na presença de uma única levedura por campo, o animal deve ser tratado.

O tratamento da malasseziose pode ser executado empregando-se medicações por via tópica ou sistêmica, bem como a combinação de ambas. Entretanto, como a malassézia é uma levedura restrita ao extrato córneo, em muitos casos, somente a terapia tópica pode ser eficaz.

Para a terapia tópica, parece existir um consenso na literatura internacional de que a associação de clorexidina a 2% e miconazol a 2% é a melhor opção. Porém, várias outras substâncias são listadas, dentre as quais destacam-se:

  • Cetoconazol a 2%
  • Clorexidina(acima de 3%, quando utilizada separadamente)
  • Peróxido de benzoíla a 2,5% 

O sulfeto de selênio a 2 - 2,5% também é indicado e é uma boa escolha por suas propriedades leveduricidas e desengordurantes simultâneas.

Seja qual for a substância empregada para o tratamento tópico da malasseziose, o xampu é sempre o veículo de eleição, em, no mínimo, duas aplicações semanais até o controle dos sinais clínicos.

Nos casos de otite externa por malassézia, as principais medicações tópicas utilizadas são o miconazol, o clotrimazol e o cetoconazol, que devem sempre ser associados a um corticoide para amenizar a inflamação e o prurido, bem como prevenir a estenose do conduto auditivo. A grande maioria das preparações otológicas de uso veterinário atende a esse requisito e, além de antifúngico e corticoide, quase sempre vem associada a um antibiótico que tem a finalidade de prevenir uma possível infecção bacteriana associada.

Quando houver excesso de cerúmen, pode ser indicada a limpeza regular com produtos ceruminolíticos. Nos casos de recidiva, é necessária avaliação dermatológica completa a fim de identificar a causa primária e corrigir os fatores predisponentes.

Nos casos mais graves ou refratários à terapia tópica para malasseziose, indica-se terapia sistêmica com antifúngicos orais.

Os principais fármacos indicados para o tratamento sistêmico dos quadros generalizados de malasseziose são:


  • Cetoconazol
  • Itraconazol
  • Terbinafina
  • Fluconazol
Os tratamentos devem ser mantidos por duas a três semanas ou até a melhora clínica do paciente. Os exames citológicos podem ser auxiliares na condução da terapia medicamentosa, pois, mediante a quantificação da densidade de leveduras por campo, pode-se se ter ideia do sucesso ou não do tratamento. Entretanto, é muito difícil conseguir o completo desaparecimento da malassézia no exame citológico, uma vez que ela é constituinte da microbiota normal da pele do cão.

Não importa qual seja a terapia adotada, a causa base deve ser investigada, visto que a malasseziose é uma doença sempre secundária.


FONTE:

Lima RKR, Silva Filho LE. Micoses da pele em cães e gatos.  In: Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais; De Nardi AB, Roza MR, organizadoes. PROMEVET Pequenos Animais: Programa de Atualização em Medicina Veterinária: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2016. p. 81-124. (Sistema de Educação Continuada à Distância; v.4).


Comentários

  1. Eu tenho uma cachorra de 14 anos que sofre com essa bendita Malassézia. Gostei muito das explicações que li.
    Vou aplicar algumas dicas.

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  2. Muito bom estas informações da malassezia!

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