ESPOROTRICOSE






A esporotricose é uma micose subcutânea causada por um fungo dimórfico que fica sob a forma de hifas ou micelial no ambiente e,  no tecido dos mamíferos, sob a forma de levedura.

Durante muito tempo somente a espécie Sporothrix schenckii foi descrita como causadora de esporotricose; porém, outras espécies foram descobertas, e hoje é mais aceito que a esporotricose é causada pelo complexo Sporothrix schenckii, do qual fazem parte:


  • Sporothrix brasiliensis
  • Sporothrix globosa
  • Sporothrix luriei
  • Sporothrix mexicana
  • Sporothrix schenckii estrito sensu
A esporotricose é uma doença cosmopolita. América latina, África do Sul, Índia e Japão possuem áreas de endemias. No Brasil, a doença já foi descrita em vários estados; porém, o Rio de Janeiro tem vivenciado uma epidemia, e algumas espécies de Sporothrix foram isoladas. O Sporothrix brasiliensis foi diagnosticado em 90% dos casos, enquanto o Sporothrix schenkii oi descrito em 6% dos casos; além deles, também foram isolados Sporothrix mexicana Sporothrix globosa. A doença já foi descrita em várias espécies, dentre elas, citam-se cão, gato, porcos, ratos, hamster, macaco, cavalo, ovelha e até golfinhos e camelos.

A transmissão da esporotricose ocorre tanto pela inoculação traumática por contaminação transcutânea em solos, plantas e matéria orgânica, como pela forma zoonótica, por mordida ou arranhadura. O gato tem um alto potencial zoonótico, pois as suas lesões são repletas de leveduras. É também descrita a presença do fungo na cavidade oral, nasal e em unhas de gatos assintomáticos, mas com potencial de propagar a doença. Os gatos são a espécie mais acometida pela esporotricose, e os animais de maior risco são os machos peri domiciliados e inteiros. Presume-se que a inoculação do fungo ocorra mediante mordidas e arranhões nos momentos de disputas entre machos.

Os gatos têm maior potencial zoonótico para esporotricose, pois apresentam lesões mais ricas em fungo.

A partir do ponto de inoculação, o fungo penetra na derme profunda e se transforma em levedura.

Em gatos, pela alta frequência de sinais respiratórios em pulmão e em mucosa nasal, a via respiratória(inalada) revela-se importante rota de infecção.

Os gatos são mais susceptíveis à infecção quando comparados com o cão e o homem; por isso, têm a doença mais grave.

Nos gatos com esporotricose, observa-se a formação de múltiplos nódulos ulcerados, encimados por crostas melicéricas e/ou hemáticas. Também se observam tratos drenantes, abcessos e celulite. As lesões afetam comumente cabeça, membros e cauda, mas, não raro, a doença apresenta-se de forma generalizada. Os cães, por sua vez, apresentam a doença de forma mais branda, e a cabeça é a região mais afetada, especialmente o focinho, seguida dos membros e do tórax.

Acometimento generalizado da cabeça de felino com esporotricose

Lesão nodular cutânea em face de cão


O diagnóstico de esporotricose consiste, inicialmente, da análise citológica e/ou histológica da lesão e deve ser confirmado com o cultivo.

A citologia da esporotricose pode ser feita nos nódulos com a coleta por agulha fina ou das úlceras por meio do imprint ou da citologia por esfoliação. Esse exame tem sensibilidade em torno de 80%. A coloração de Romanowsky é a mais usual.

Na análise citológica de esporotricose, observa-se um processo inflamatório rico em macrófagos e neutrófilos, e as estruturas fúngicas são encontradas tanto livres como no interior de macrófagos.

Citologia de exsudado de esporotricose felina 


Por meio da análise histopatológica, também é possível visibilizar os fungos.

Os achados microscópicos da análise histopatológica variam de acordo com a gravidade da infecção. Nos gatos há granulomas malformados e ricos em macrófagos.

Foi levantada a hipótese de as diferenças clínicas e histopatológicas entre as espécies acometidas por esporotricose estarem associadas a cepas mais virulentas. Porém, no Brasil, em infecções com cepas semelhantes de Sporothrix brasiliensis, consideradas as mais patogênicas, os casos humanos são mais brandos do que os caninos, o que mostra que há outros fatores envolvidos na gravidade da doença.

O teste confirmatório de escolha para esporotricose é a cultura fúngica. A hemocultura é recomendada no caso de lesões disseminadas.

O tratamento da esporotricose é longo e requer adesão por parte do proprietário, que deve ter a compreensão de que se trata de uma zoonose que necessita de administração correta e de manutenção da administração, além da cura clínica, a fim de evitar o contágio tanto por parte do proprietário, como de outros contactantes. Dentre os antifúngicos azólicos, o itraconazol é considerado a substância de escolha, sendo necessárias 16 até 80 semanas para a cura clínica.

É referido efeito adverso ao itraconazol em até 30% dos animais, que podem apresentar inapetência, apatia, vômito e aumento das enzimas hepáticas. O cetoconazol também é utilizado, mas, apesar de o tratamento ter custo mais acessível, os animais toleram menos esse fármaco em função da ocorrência de efeitos adversos mais frequentes do que com o itraconazol.

O itraconazol é o fármaco de escolha para tratamento da esporotricose, mas, para um bom resultado, é necessário longo período de tratamento.

Uma alternativa ao tratamento convencional da esporotricose é o uso dos iodados, o iodeto de potássio e o iodeto de sódio, que podem ser usados com sucesso em muitos casos, inclusive naqueles refratários ao itraconazol.

Os gatos são muito sensíveis aos iodados, e os efeitos tóxicos do iodismo podem ser graves. Citam-se anorexia, depressão, vômito, diarreia, hipotermia, hipertermia, falência cardiovascular, hiperexcitabilidade e espasmos musculares.

O iodeto de potássio foi empregado com boa resposta clínica. O tempo de cura clínica foi de 19 semanas. Assim, as cápsulas de iodeto de potássio foram consideradas uma alternativa para o tratamento de animais com esporotricose.


FONTE:

 Lima RKR, Silva Filho LE. Micoses da pele em cães e gatos. In: Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais; De Nardi AB, Roza MR, organizadoes. PROMEVET Pequenos Animais: Programa de Atualização em Medicina Veterinária: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2016. p. 81-124. (Sistema de Educação Continuada à Distância; v.4).

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